Chucky o agitador

Lendo o livro de James C. Hunter intitulado “Como se tornar um líder servidor”, encontrei logo no primeiro capítulo 1 algo do qual me identifiquei, na realidade identifiquei uma situação da qual vivenciei no passado, mas que não tinha argumentos suficientes para defender minhas convicções.

O autor do livro começa narrando sobre suas experiências profissionais, e na primeira estória conta sobre um personagem que encontra em várias de suas consultorias de nome fictício: Chucky. Chucky é um agitador, vive causando problemas a empresa e os diretores precisam “silenciá-lo” para que as atividades retornem ao normal.

James C. Hunter, conta que em suas experiência profissional, descobriu que nem sempre o “agitador” é o problema, que normalmente, ele é o único que tem coragem de dizer a verdade, e que esta verdade é que seus líderes falham. O difícil era ter coragem de dizer ao líder de que ele era o problema.

Bom, tudo isto que disse foi para introduzi-lo ao meu antigo problema. Que a meu ver cai bem neste cenário. Deixe-me explicar brevemente. Há algum tempo fui notificado de que um colega de trabalho seria demitido, nunca fui muito amigo, ou próximo deste profissional, mas já tinha uma imagem de que os motivos elencados para o seu desligamento não eram condizentes com o que eu vivenciava, e observava.

Diante desta situação resolvi a minha maneira tirar a prova sobre minhas impressões, descobri que estava certo, mais que isto, identifiquei claramente que em algumas situações ele falhou sim, mas que não era o único culpado, que na maioria esmagadora das vezes houve participação do líder envolvido naquele momento, seja por má instrução, seja por omissão.

Na época isto me deixou com o sentimento de que poderia fazer algo para tentar resolver a situação, afinal, a empresa investiu tempo e dinheiro, formando e capacitando tal profissional, esforço este que ao meu ver não deveriam e não poderiam ser simplesmente jogados fora, nós deveríamos encontrar uma forma de resolver esta situação sem que isto culminasse no infeliz “desligamento”.

Meus esforços foram em vão, pior que isto, para tentar resolver a situação e abrir os olhos dos diretores, arrisquei, e muito, até mesmo desobedeci a ordens diretas destes diretores, que por conseqüência me deixou com a imagem de um colaborador insubordinado (mais um Chucky na organização). Mas quer saber? Valeu o risco! Pois hoje, tenho a consciência tranqüila de fiz o certo, pois consegui verificar que minha opinião estava correta.

Demitir este profissional por causa de erros cometidos coletivamente, que incluíam a liderança do momento não é a atitude correta, oque está se fazendo nesta situação é criar um mártir, onde apenas um “paga” pelos erros de muitos, oque está se criando é um exemplo aos que ficam, exemplo este que acaba se voltando negativamente contra a organização.

Ouvi diversas vezes de vários funcionários que eles sentem que seus empregos estão ameaçados, que a empresa não lhe transmite segurança em suas funções. Ouvi até o exato relato: “Na empresa WXYS nós estamos sempre com a navalha no pescoço”. Relatos como este me comprovam que os lideres estão falhando, mais que isto suas falhas estão se tornando um problema contra eles mesmos.

Nesta experiência pude observar e aprender que quando um liderado erra, ele não erra sozinho, nunca. Sempre há a participação ou omissão do líder, e ser omisso é pior que participar do erro, pois não há se quer a possibilidade de aprender com o erro. Mas é possível estragar ainda mais a situação, o líder pode se esconder mais uma vez e eleger um mártir.

Hunter [1] afirma que: “O maior indicador de saúde ou doença organizacional está na liderança ou em sua ausência”. Neste caso em específico acredito que a saúde esta debilitada, os lideres são míopes diante de seus próprios problemas, e sofrem de deficiência auditiva, pois não ouvem seus liderados.


Ditado chinês: “O líder é o responsável pelo crescimento e declínio de qualquer coisa”

“Não há pelotões fracos – apenas líderes fracos” – Autor: General William Creech



[1] Hunter C. J (2006) - Como se tornar um líder servidor – Os princípios de liderança de o monge e o executivo